Crônica – Moço do Suporte o Carrasco da Firma
Muito se engana quem pensa que a figura mais temida de um escritório é o chefe: o fato de ele ter um salário muito maior que o seu e uma cadeira muito mais confortável que a sua não quer dizer, necessariamente, que o cara é malvado. A vilania também existe naquela sádica e sorridente mocinha do RH, que vive inventado churrascos de confraternização entre funcionários que pagariam para não trombar com os colegas fora do expediente. E o que dizer do protegido dos superiores? O figura adora um puxa-saquismo e, durante a prática, gosta de puxar o tapete dos outros.
Na verdade, se pensarmos direito, todo ambiente de trabalho é repleto de figurinhas deveras amedrontadoras, do tipo que você reza para não esbarrar enquanto pega um cafezinho ou busca uma fotocópia. Aqueles sujeitos que lhe fazem adiar o almoço só para não correr o risco de dividir o elevador com eles. Nenhum, porém, pode ser comparado ao maior carrasco da firma. Ele vive nas sombras, não é de muita fala e esconde suas malvadezas em pequenos gestos. Sim. O moço do suporte.
Todas as empresas pelas quais eu passei dependiam dos computadores para o seu ganha-pão – e é em casos como esse que o moço do suporte se esbalda, por saber que seus conhecimentos e sua presença são mais necessários que os de grande parte dos demais empregados. Pode reparar: em firma de internet, por exemplo, ele não se mistura com a gentalha que fica do lado de lá da redoma de vidro onde ele fica. Porque enquanto nós temos mesas grudadas umas nas outras em um escritório calorento, ele tem um espaço com a temperatura controlada por conta do maquinário.
Quando sai para o almoço, só sai acompanhado dos seus semelhantes, pois sabe que poderá conversar sobre a última novidade em matéria de placas-mãe sem soar nerd. Tudo bem, nós não queremos bater papo sobre esse assunto. Mas custava o moço do suporte responder aos “ois” e “bom dias” que tentamos inocentemente jogar neles?
Ou, pelo menos, não olhar com cara de desprezo quando dirigimos a fala à sua tão ilustre pessoa? Na minha terceira tentativa de uma troca de idéias que não funcionou, desisti de me misturar com a equipe dos moços do suporte. Contudo, essa parede invisível precisa ser quebrada quando o computador dá pau.
Ao ver uma temida tela azul aparecendo ou qualquer outro sinal de arrego do aparelho, suspiramos fundo prevendo a missão em terreno acidentado que teremos pela frente. A primeira atitude a ser tomada é chamar o moço do suporte para dar uma olhada no problema. Então, ligamos para o ramal dele. O telefone toca, toca, toca… Olhamos para a redoma de vidro para ter certeza de que ele está lá. Está. Levantamos da cadeira e caminhamos, devagar, até o habitat do sujeito. Falamos, em voz trêmula, “meu computador travou”. Ele não levanta os olhos da tela. “Será que você poderia vir até a minha mesa, por favor?”. Ele não mexe um músculo. Sussurra algo que se parece com “grumpf”. Tomamos o grunhido por um “ok”. Só nos resta voltar ao nosso espaço e esperar.
E esperar. E esperar. E esperar mais um pouco. Porque o moço do suporte adora mostrar que existem outros 745 pepinos para ele resolver e que nosso computador travado com certeza não está entre as suas prioridades. Após estarmos bem humilhados com a insignificância do nosso trabalho, ele aterrissa. Começamos a mostrar “olha, eu estava digitando e apareceu isto e…”, mas ele interrompe e pede para sairmos da cadeira. Obedecemos e ficamos parados, em pé, ao lado dele. Ele torce o nariz para a nossa foto na área de trabalho. Ele vasculha todos os nossos arquivos. Ele resolve o problema em dez segundos.
Perguntamos o que aconteceu, para fazer uma social. O moço do suporte, então, pode tomar dois rumos: ou ele dá uma explicação cheia de palavras complicadas para encerrar logo o assunto, ou diz apenas que o problema é uma bobagem – dando a entender que só alguém tão estúpido em informática não resolveria a situação de imediato e precisaria chamar por socorro como um maricas.
Antes de se recolher aos seus aposentos refrigerados, porém, ele não perde a oportunidade de colocar toda a culpa do mau funcionamento do computador no nosso programinha de compartilhamento de músicas. Diz, com cara séria, que fazer uso de tal ferramenta é proibido pelas normas da firma e deleta tudo sem dó nem piedade.
Também acaba com o nosso programinha de conversa com amigos. “É uma porta de entrada para vírus, depois o computador trava e você não sabe o porquê”, sentencia o carrasco.
Isso, é claro, se tivermos sorte. Porque se o azar estiver pairando sobre nossas cabeças, é provável que o moço do suporte mande trocar o nosso teclado, tão macio e familiar, por outro duro e com as letras trocadas. Ou o nosso monitor bacanoso por um de pior qualidade, meio capenga e de cor diferente das demais peças. Ou o nosso mouse com scroll por um daqueles toscos que a firma dá de brinde. E lá ficamos, com um computador destravado, mas sem muitas das coisas que faziam as horas de labuta ficarem um pouco menos insuportáveis.
Moço do suporte, você não tem coração?
hehehehehe, preciso começar o comentário com o riso, pois foi muito legal, compreendo de ponta-a-ponta esse texto, e é vivo. Gostei !!!
Obs: Como leitor gostaria que desse mais atenção nos posts do site, sempre de qualidade, mas em longo período entre uma atualização e outra, abraços
Eu sou o “moço do suporte”.
É exatamente assim que eu faço.
A única coisa ruim dessa profissão é o usuário, se não existissem, tudo seria uma maravilha.
hehehe
Hahahaha!!! Adoreeeeiiii!!! Eles são assim mesmo… até meu noivo (que ele não veja isso) se encaixa nesse perfil… pq ele também é um “moço do suporte” hueehueuheuehe
Até comentou comigo que só faltou uma foto 3×4 dele aí! rsrsrs
Parabéns! Adorei a forma como escreve.
A propósito, posso divulgar seu texto no meu blog?
Valeu!
Abçs
Venilton, acredito que uma coisa depende da outra, há se não fosse os usuários, heheheh
Denise, pode publicar o texto sim… fique a vontade…
Jonas, obrigada. Colocarei seu nome lá tá bom?
Ham, meninos, mas se não existíssemos NÓS os usuários, vcs não teriam tanto serviço! rsrsrs
brincadeirinhaaa!!! rsrs
Muito bom o seu texto Jonas!!!
Parabéns.
Já atuei com suporte e no início pensava com o Venilton (a que bom seria se não existisse usuário!!), porém com o passar do tempo mudei meu pensamento em relação aos usuários e comecei a levar tudo no bom humor… Hoje já não atuo mais com suporte, mas sei como é o dia-a-dia de ambos os lados. E só ressaltando o que o Jonas disse usuário depende do moços do suporte e os moços do suporte dependem dos usuários.
Opa….
as vezes é assim com aqueles caras q vc não gosta…..
mais quando é umas funcionárias bonitas não pode apagar o msn delas….
tem que te add neles….
uhauhauahuahuahuaha
sou funcionario da camara municipal e sei bem como é isso….
o delicia de trampo!!
uhauahuahuahauhuahuaha
Nos os moços do suporte somos a raça suprema. No futuro os usuários, mais conhecidos por BIOS (bicho idiota operando sistema) serão os nossos lacaios. existirão apenas para nos divertir.